segunda-feira, 20 de julho de 2009

A dúvida é o preço da pureza

Andava displicente na rua, um passo quase retrógrado, desanimado pra mais um dia cheio, mais um feriado sem nexo, sem sentido, queria fazer tanta coisa, mas aquela cidade inútil não lhe oferecia oportunidade alguma de entretenimento, logo ele, logo João que desejava tanto ter um contato mais intenso com o meio... Resolveu ir até o bar mais próximo, sentou-se sozinho numa cadeira confortável, espaçosamente fez seu pedido e contemplou sem maiores admirações a paisagem, os carros lançamentos, as belas gurias passando, a vida boémia e sem graça daquele local.
Uns mochileiros passaram correndo, e deixaram pra traz um postal, João teve preguiça de pegar do chão, mas como ele se postava bem adiante dos seus calcanhares, leu num puro gesto de impulso ou passatempo, seu café estava demorando, e estampado na frente do papel havia um por do sol e uma paisagem que imaginou ele, não encontraria uma tão bela por ali.. paisagem surreal aquela, água cristalina, gramado,eucaliptos... era o que ele precisava, mas imaginou que em meio a catinga não haveria cena tão surpreendente. Pegou o postal para mostrar a sua esposa, e diria a seus filhos que os levaria nas férias de verão pra lugar como aquele, olhou atrás o nome do lugar e estranhamente havia escrito “Vitória da Conquista – Ba”. João não enxergava motivos para alguém mentir sobre as belezas naturais de um lugar – imagina se no meio a esta caatinga de mato seco, haverá algo de belo – disse alto. Um velho senhor pediu o postal, e disse saber da existência desse lugar, e jurou ser verídica a informação atrás do postal. Mas João achou que não valia a pena procurar, afinal devia ser apenas um fotografia bem tirada de um lugar sem graça, além do mais muito perigoso se embrenhar por mata fechada...imagina aquele risco não valia a pena correr (preferia viver ultrapassando sinais vermelhos, em função de um tic tac de relógio, preferia atravessar fora da faixa, ou discutir com o açougueiro, não, ele não corria riscos na grande faixa de civilização, bastava chegar em casa antes do sol se por e sair depois que já tivesse nascido, não seria assaltado assim.)... Então um dia João teve que mudar de cidade em função de seu trabalho, ele foi embora sem se lambuzar do mais belo estandarte, sem comer uma nuvem de algodão doce e sem ver o mais belo por do sol da Bahia. Mas os mochileiros aproveitaram por ele.

escrito em: 19/10/07

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